Os poemas e fotos aqui publicados, quando não identificados como sendo de outros autores, são de autoria de Antonio Augusto Biermann Pinto

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Você pode morrer apenas por viver em sua pele...

"Atira primeiro. Pergunta depois. Foi assim que um grupo de policiais que fazia uma operação na favela da Palmeirinha, na zona norte do Rio de Janeiro, agiu na noite do último sábado quando matou um jovem de 15 anos e feriu outro, de 19, com um tiro no peito. Até a tarde da última quarta-feira, a versão oficial da polícia era de que quatro criminosos atiraram contra um blindado da PM que fazia uma ação de rotina na região. Ou seja, tratava-se de um caso de auto de resistência ou morte em decorrência da atividade policial. A filmagem feita pelo celular do jovem que morreu, porém, contradiz essa tese e mostra que os policiais dispararam ao menos dez vezes contra um grupo de quatro amigos sem nenhuma razão.
No vídeo de pouco mais de nove minutos, publicado na página da organização Rio Consciente, há quatro jovens moradores da comunidade sentados em suas bicicletas, conversando e contando piadas. Todos estavam desarmados. Pouco depois do primeiro minuto da gravação, é possível notar que os rapazes começam a correr, na sequência, tiros. De repente o jovem que estava filmando, Alan de Souza Lima, de 15 anos, cai e começa a gemer de dor. Ele fora atingido por dois disparos no abdômen. O vídeo não mostra quem atira nem o rapaz sendo baleado, mas é possível ouvir os policiais perguntando por qual razão os jovens correram. E eles respondem que só estavam brincando. Lima morre no local.(..) El PAÍS, 27/02/2015
Coincidência? Não...Infelizmente não. Rotina mundo afora...A música de Springsteen é de 1999, em homenagem a Amadou Diallo, imigrante guineano (ou guineense) nascido em 1975 e morto a tiros pela polícia nova-iorquina em 4 de fevereiro de 1999. Os policiais Edward McMellon, Sean Carroll, Kenneth Boss e Richard Murphy estavam à paisana e o confundiram com um suspeito por vários estupros, quando abordaram Diallo perto de sua casa. No momento da abordagem, tentando mostrar que não estava armado, ou tentando mostrar sua identidade, Diallo colocou a mão no bolso, retirando de lá um objeto preto. O policial Carrol gritou "revólver!", ao que seus colegas abriram fogo. Poucos segundos e quarenta e um tiros depois, Diallo estava morto, fuzilado, atingido dezenove vezes. O objeto preto que ele tinha pego em sua jaqueta não era nada mais que uma carteira. 41 tiros...41 tiros...Coincidência? Não...Afinal, não é segredo pra ninguém: aqui, como lá, você pode ser morto apenas por viver em sua pele...
American Skin (41 tiros)
41 tiros, e nós vamos ter que passear
Em todo este rio sangrento para o outro lado
41 tiros, eles cortam a noite
Você está ajoelhado sobre o corpo dele no vestíbulo
Orando por sua vida
Você pode ser morto apenas por viver em sua pele americana
41 tiros, Lena recebe seu filho para a escola
Ela diz que agora nessas ruas Charles
Você tem que entender as regras
Prometa-me se um policial parar você vai sempre ser educado
Nunca fugir e prometa para sua mãe que você vai manter suas mãos à vista
Porque é uma arma?
É uma faca?
É uma carteira?
Esta é sua vida
Não é segredo para ninguém (não é segredo para ninguém)
Não é segredo para ninguém (não é segredo para ninguém)
Nenhum segredo meu amigo
Você pode ser morto apenas por viver em sua pele americana

Conversam a manhã e a tarde
Sobre silêncios perdidos
Concluem que de nada adianta
Gritar ao vento os sentidos
Melhor calar por um tempo
E aguardar um momento 
Em que a noite lhes dê ouvidos


Nas asas do tempo viajamos
Nas malhas do tempo ficamos
Nos olhos do tempo acordamos
O tempo é de nós dimensão

Se o tempo nos é
Ou nós o somos
Se fica algo ou ficamos
De tudo que nos lembramos
O tempo é incerto guardião

O tempo é sombra e imagem
O tempo é sonho e miragem
Confunde com sua passagem
O tempo é certeza ou ilusão?




Rio São Francisco - Neópolis, SE

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