Os poemas e fotos aqui publicados, quando não identificados como sendo de outros autores, são de autoria de Antonio Augusto Biermann Pinto

terça-feira, 24 de março de 2015


Das coisas que vi
Nada se mostrou tão logo
Tudo pensei ter dois lados
Nunca me fiz de rogado
Tudo o que vi foi pensado
Nada me cruzou ao largo
Tudo guardei de algum modo

Das coisas que fiz
Nada me foi tão pouco
Nada ficou suposto
Ao tempo exposto
Cada lado do rosto
Queimou em janeiro
E gelou em agosto

Das coisas que vivi
Nada me disse nada
Nada foi por acaso
Nada restou perdido
Tudo é procura e sentido
Sigo o caminho e insisto

Vivo, não apenas existo

segunda-feira, 23 de março de 2015

ROTA




Não busco hoje saber quem eu era
Quem hoje sou já pouco me importa
Eu sei que existe um porto à minha espera
Navego em frente, vou seguindo a rota

Ouvi de ti o que ainda não sabia
E desde então eu vejo o que não via
O céu e o mar unidos numa linha
Antes de ti eu nem mesmo olhos tinha

Andar mais longe agora me arrisco
Aportar em ti é ao que me proponho
Em mar aberto ao teu encontro sigo
E ao chegar ao teu porto abrigo
Voar sobre o mar contigo


Será  meu novo  e louco sonho

quinta-feira, 19 de março de 2015

OUTONO


OUTONO
Desista
Desista da pele e do pelo
Desista do fogo e do gelo
Desista do ser e de sê-lo
Desista de ver e ouvir
Desista
Das gentes que não te sabem
Das coisas que não te cabem
Daqueles que não te valem
Desista de crer e sentir
Desista
Desista dos juros tão altos
Desista dos pulos e saltos
Desista dos fulos e fartos
Desista de vir ou partir
Desista,
Desista das coisas do mundo
Desista do raso e do fundo
Desista do moribundo
Desista de insistir
Desista,
Desista do mês e do ano
Desista do curvo e do plano
Desista do sonho e do sono
E porque é chegado o outono
Desista de desistir
(POEMA E FOTO: AABP)

Manhã de domingo
Algo raro e lindo
O vento venta sorrindo

quarta-feira, 11 de março de 2015


SELFIE

Sempre
Expõe
Lado
Feliz
Iluminado
Encantado

Sempre
Estamos
Lindos
Fascinantes
Inteligentes
Engraçados

Sem
Esses
Lados
Feios
Impotentes
Estressados

Sem
Esses
Lados
Fracos
Inconstantes
Emburrados

Sorrisos
Estilizados
Lembranças
Fossilizadas
Instantaneamente
Eternizadas:


SELFIE


Na dança das palavras
A mão pegou na mão do pé
O pé pisou no pé da mão
Mas não disseram palavra qualquer
Que pudesse atrapalhar a canção

E dançaram, noite toda
Até o sol invadir o salão
Então partiram, a pé
Pé por pé, mão na mão
Em silêncio, que é como é

O verdadeiro som da paixão

terça-feira, 10 de março de 2015


FELINA

Uma palavra
Com garras de puma
Rasgou minha carne
Como rasgasse uma planta

Uma palavra com patas de tigre
Um golpe certeiro
Na minha garganta

Uma palavra com força leonina
Feriu minha alma
Como se fosse uma espada

Uma palavra com pontas ferinas
Palavra maldita
Palavra afiada

Uma palavra com unhas felinas,
Um salto,
Um som,
Um NÃO,

E mais nada...
PÉROLA

Há cores que se escondem
Por trás do brilho
De anciãs estrelas
Cores que dormem
E que recolhem
Os seus matizes
Se a terra gela
Cores que aguardam
Pacientemente
Se for preciso,
A certa era
Vão maturando
Como uma ostra
Dentro do casco
Matura a pérola
E um dia explodem,
Por toda parte
Cruzando esferas
Cores e flores
Dançando soltas
Pintando sonhos

Nas primaveras

sexta-feira, 6 de março de 2015



GRAMÁTICO

O tempo diz sim
A quem o afaga
Talvez, a quem o agrada
Diz não, a quem o ataca

Às vezes, o tempo estraga
Às vezes, o tempo apaga
Nem sempre o tempo acaba
Nem sempre, o tempo agrava

O tempo sempre emprega
A melhor forma,
A exata norma,
A perfeita palavra...


terça-feira, 3 de março de 2015


VIGÍLIA

Durmo na sombra da estante
Dentro do teu Neruda
Na cama onde te deitas

Durmo em silêncio de estrelas
Durmo nas coisas que velas
Sonhando coisas perfeitas

Menino que dorme no homem
Que cuida de tudo o que dorme
Só dorme se o sono venceu

Durmo em teus braços de espera
Nos teus cabelos de seda
No teu corpo de sal e mel

Mas nunca dormem as feras
Que um pesadelo revela
Dorme em mim quem aprendeu

E se durmo enquanto dormes
Sempre acordado em meus sonhos

Quem vela teus sonhos sou eu

SINA


O barco conhece a obra
Espera, paciente, a hora
Em que o rio o chama pra dentro
Parte da margem ao centro
Vence as ondas calado
Mira firme o outro lado
Rio abaixo, rio acima
É na água a sua sina,
E aprendeu com o tempo
A nunca, nunca, ter pressa
Uma margem só termina
Onde
outra margem começa

GENESIS


Não é o poema que nasce
Quando um poeta o cria
A poesia não dá
Ao poeta tal valia

Não há no poeta o poder
De sempre ao seu querer
E por um simples prazer
Fazer viver a poesia

O poeta é que é fadado
A estar sempre acordado
À espera de um chamado
Que nunca sabe se vem

O poeta nasce quando
O poema surge onde
A poesia escolhe quem

É sempre um poeta que nasce
Se um poema floresce

E cresce na alma de alguém

Rio São Francisco - Neópolis, SE

Rio São Francisco - Neópolis, SE